João Paulo – ‘João Tamura’ – e Miguel Anastácio não se conheciam antes daquela tarde em que foram fotografados juntos. Nasceram ambos em Lisboa, com 20 anos de diferença, e percorreram caminhos distintos. Nessa tarde, os seus caminhos cruzaram-se e descobriram que ambos partilhavam, desde muito cedo, um grande amor: a música.
Miguel nasceu primeiro, em 1973. Não sabe porquê, mas foi a música clássica que o segurou mais, desde sempre, até que aos 12 anos pegou num violino e começou a estudar no Conservatório de Música de Sintra. Passou depois para o piano e, mais tarde, para o canto e para a direção. Hoje, dirige o Sintra Estúdio de Ópera, que fundou em 2005.
Em 1992, entrou na TAP como Comissário de Bordo. Na altura com 18 anos, chegou a ser o mais novo ao serviço da Empresa.
Miguel trabalhava na TAP há um ano quando, no bairro dos Olivais, nasceu João. A paixão pela música, diz, surgiu logo na infância, ao ouvir os discos do pai em casa. Mais tarde – só um pouco mais tarde – começou a escrever poemas e pequenos textos. Gravou a sua primeira canção aos 14 anos. Em 2016, editou Hokkaido, EP produzido com o produtor Holly de forma totalmente independente. É, hoje, com 25 anos, um dos artistas emergentes do hip hop português.
João Tamura é agente do Contact Center e Miguel Anastácio é Cabin Crew Training Coordinator.
“Gosto do trabalho por turnos! Nunca gostei da ideia de uma rotina: de acordar e adormecer todos os dias à mesma hora. Sinto-me bem assim, sem um horário fixo, e isso também nunca me impossibilitou de fazer música.” (João Tamura)
João Tamura é músico, poeta, fotógrafo e, desde agosto de 2017, agente do Contact Center da TAP. Consegue, desta forma, conciliar a música e a fotografia com duas outras grandes paixões: a aviação e as viagens. O trabalho por turnos chega a ser uma vantagem, afirma, já que lhe permite usufruir de momentos diferentes do dia. Quando trabalha de dia, tem a noite para se dedicar às suas artes. Quando trabalha à noite, tem os dias disponíveis. É assim que prefere.
Fazer da música o seu ganha-pão não é um objetivo. João gosta de fazer música de forma livre e não vê com agrado a ideia de ter de alterar o que faz e a forma como o faz: “Nunca quis sujeitar-me às pressões do mercado ou encarar a minha arte como um negócio. Gosto de fazer a minha música à minha maneira: escrevo quando me sinto inspirado, sempre como uma terapia ou um desabafo, e gravo quando quero e quando me apetece. Só me sinto feliz a criar música assim: totalmente livre de qualquer pressão ou obrigatoriedade.”
‘João Tamura’ é o pseudónimo que João Paulo escolheu para assinar os seus trabalhos artísticos. Fotografia de Sara Sakura.
“Foi um trabalho árduo, num mundo e ambiente extremamente exigentes e competitivos, mas se acreditarmos nos sonhos e trabalharmos com paixão, humildade e honestidade, estamos no caminho certo para os concretizar.” (Miguel Anastácio)
Longe do hip hop, mas não tanto assim – afinal, tudo é música – encontra-se Miguel Anastácio e a sua música clássica. Em 1999, em conversa com uma professora, discutia a dificuldade que existe em Portugal de os novos cantores encontrarem um lugar seu. Resolveram, eles próprios, criar uma estrutura que o permitisse. Em 2005, fundou o Sintra Estúdio de Ópera (SEO), que conta hoje com cerca de meia centena de colaboradores – entre orquestra, cantores e equipa de produção – e que integra, por exemplo, um dos mais conceituados quartetos de cordas nacionais: o Quarteto de Cordas de Sintra. A investigação também faz parte da missão desta instituição, que tem permitido estrear muitas obras do património musical dos séculos XVIII e XIX.
O Maestro, atual Presidente da Direção e Diretor Artístico e de Produção do SEO é, ao mesmo tempo, responsável pelo Treino do Pessoal de Cabina da TAP. Não é fácil, explica, conciliar as duas vidas, mas a antecedência com que o trabalho é feito, sobretudo na área da música, facilita o planeamento dos concertos.
Como João, também Miguel prefere não “viver da música”. “Já considerei mas, por outro lado, teria que prescindir de outra paixão que é ser tripulante da TAP. Se podemos ter o melhor dos dois mundos, porque não? Acho que tenho muita sorte nesse aspeto.”

Miguel Anastácio, pela lente de Susana Neves.
Na Empresa, os colegas de trabalho conhecem os seus projetos. João, com a sua presença forte nas redes sociais, não poderia esconder a sua música mesmo se o quisesse. “Felizmente”, diz, “tenho colegas que gostam do que faço – e que já conheciam e escutavam a minha música antes de me conhecerem pessoalmente – o que me deixa bastante feliz.” Miguel, por seu turno, já contou com caras conhecidas da TAP em concertos seus: “Nem todos conhecem, mas os que conhecem dirigem sempre palavras muito simpáticas e muitos já estiveram presentes em vários concertos.”
Miguel e João percorreram caminhos distintos, mas as suas vidas cruzam-se em muitos pontos. Em comum têm, claro, a dedicação à música, mas também ao trabalho na Companhia, uma Empresa que é feita de pluralidade e onde as pessoas se cruzam todos os dias, tantas vezes sem saber que talentos escondem os seus colegas de sempre. Quem sabe se os dois músicos (e haverá tantos outros na TAP) não terão oportunidade de trabalhar juntos em breve? Esperamos sinceramente que sim.