Marco Lança, natural de Setúbal, tem 29 anos e está na TAP há dois anos e meio, onde conta já com dez elogios. Na sua “vida passada”, jogou em sete clubes de futebol e almoçou com Cristiano Ronaldo.
Hoje, como Comissário de Bordo, aquilo que mais valoriza é a qualidade do serviço que é prestado aos passageiros.
Foi entrevistado recentemente para o jornal “A Bola” e conversou esta semana com a WHAT’S|UP:
Fale-nos um pouco do seu percurso futebolístico. Com que idade começou a jogar?
Comecei muito jovem, num clube em Setúbal chamado os Pelezinhos, com seis anos. Era uma paixão que eu tinha desde que me lembro. Aos oito anos surgiu um convite para o SCP – estávamos em 1996, ainda nem sequer havia academia. A partir daí tornou-se mais a sério: íamos três vezes por semana para Lisboa (ainda não havia a Ponte Vasco da Gama). Tínhamos de jantar em Lisboa e, com o trânsito, só chegávamos a casa de noite. Era um dia inteiro: escola, diretamente da escola para Lisboa, depois voltar para casa de noite, dormir, e no dia a seguir repetir.
Marco Lança em criança no Sporting Clube de Portugal (Lisboa)
Quais foram os Clubes pelos quais passou?
Joguei nos Pelezinhos (Setúbal), no Sporting Clube de Portugal (Lisboa), no Clube Desportivo de Mafra, no Nea Salamis Famagusta (Chipre), no Clube Operário Desportivo e no Clube Desportivo Santa Clara (Açores), no Sport Clube de Mirandela e terminei no Académico de Viseu, em 2014.
Marco Lança no Clube Desportivo de Santa Clara (Açores) e Sporting Clube de Portugal (Lisboa)
Era jovem quando foi para o Chipre. Como lidava com a distância da família?
Eu sempre me mentalizei que o futebol era mesmo assim – nunca é onde queremos, é onde as oportunidades surgem. Fui em agosto de 2008, com 20 anos, e adaptei-me bem porque era um país onde estavam muitos portugueses. Claro que há sempre as saudades, mas mais que as saudades havia um objetivo que queria atingir.
Acha que isso o ajudou a preparar-se para a sua carreira atual, que também é feita de distâncias?
Sem dúvida. Desde miúdo que sou muito independente e nunca hesitei quando me propunham novas aventuras. Claro que todo o percurso que tive no futebol, que foi sempre longe de casa e nunca me permitiu ter o apoio presencial da família, me ajuda nesta profissão. Passamos muito tempo fora, lidamos com muitas pessoas, e todas as minhas experiências anteriores me permitiram crescer. Quando entrei para a TAP estava completamente preparado para o que ia enfrentar.
Marco Lança em entrevista à WHAT'S|UP
Há algum episódio mais caricato, da sua carreira futebolística, que se lembre?
Vem sempre à minha memória um clube onde o treinador não queria que fizéssemos trabalho de ginásio e nós decidimos ir para o ginásio na mesma. Claro que houve um dia em que ele apareceu, de surpresa. Éramos seis ou sete jogadores e tivemos de pagar uma multa.
Tiveram de pagar uma multa por treinar?
Sim, porque tínhamos ido ao ginásio sem autorização prévia do treinador. Mesmo tendo ido fazer treino específico!
Foi recentemente entrevistado para o jornal “A Bola”. Como se sentiu a reviver essa altura da sua vida?
Foi a segunda entrevista que dei após ter abandonado o futebol. A primeira foi para o zerozero.pt, também um desportivo, que serviu para explicar o porquê de ter abandonado o futebol. Esta serviu mais para aconselhar os mais novos a terem sempre um plano B para além do futebol. Expliquei o porquê de ter entrado para a TAP e de nunca ter abandonado a escola. Até dei o conselho de uma pessoa que na altura foi meu treinador e que me disse sempre: primeiro a escola, depois o futebol.
Marco numa acção de solidariedade com outros jogadores
Porque acha que é importante ter um plano B?
O futebol pode não durar para sempre e não é para todos. As pessoas pensam que são só estrelas – mas essas estrelas são só cinco por cento dos jogadores. Quem ganha pouco e acaba a carreira aos 35 anos não tem salvaguarda para o futuro, não tem um pé-de-meia. É importante termos um plano B, até por causa de lesões ou caso não consigamos atingir o nível desejado. Há quem não aceite o facto de não ter conseguido chegar longe. Eu sempre me fui mentalizando que iria sair. Antes da lesão – que foi um dos fatores que me fizeram abandonar o futebol – já pensava nisso.
Chegou a pisar o campo com grandes jogadores?
Não pisei com o Ronaldo – embora o conheça dos tempos da academia e tenhamos um amigo em comum – mas posso falar-vos do Rui Patrício, do Adrien Silva e do meu grande amigo Daniel Carriço, que é também o meu ídolo. Na altura em que saiu do SCP passou por grandes dificuldades, mas por ser uma pessoa trabalhadora e ambiciosa conseguiu tornar-se a referência no Sevilha que é hoje.
Marco Lança com Daniel Carriço
Marco Lança com Cristiano Ronaldo
Está na TAP há dois anos e meio. O que tem achado desta experiência?
A experiencia é muito positiva. Claro que há dias menos bons, mas temos de nos lembrar que vamos prestar um serviço a muitos passageiros e que eles não têm culpa se estamos num bom ou mau dia. Nós somos a primeira imagem da Companhia e é muito importante termos sempre um sorriso. Mesmo que uma ou outra coisa não tenha corrido bem, se um passageiro chega ao avião e o tratarmos bem, já nem se vai lembrar tanto do que se passou para trás. É esse o principal pensamento que tenho quando entro no avião – vou dar o meu melhor a estes passageiros que eles assim vão voltar.
Marco Lança no seu primeiro voo como comissário de bordo
Já conta com dez elogios no seu currículo na Companhia. A que se devem?
Vou dar um exemplo, porque me recordo de um passageiro que vinha de Viena. O seu percurso no aeroporto até ao embarque não tinha corrido muito bem e vinha muito stressado. Falou mais diretamente comigo e eu tentei ajudá-lo da melhor forma possível. Tentámos amenizar a situação ao máximo e ele ficou maravilhado com a nossa tripulação.
Nas suas funções atuais, o que mais o motiva?
Além de voar com os colegas – e normalmente as tripulações com quem voo têm sempre um bom convívio entre todos – o serviço ao Passageiro. O passageiro TAP sempre apreciou um bom serviço e é sem dúvida aquilo a que dou mais valor.
Fazendo um balanço, acha que tomou a decisão certa?
Nunca voltaria atrás. Muitos colegas perguntam-me se não tenho saudades do futebol e eu respondo sempre: saudades tenho, porque quem fez aquilo que gosta tem sempre saudades. Mas o futebol mudou muito desde que eu comecei a jogar. Vou ver os jogos, jogo com colegas da TAP também, mas não tenho saudades do futebol profissional.