Fale-nos um pouco de si e do seu percurso na TAP.
Vim para a TAP, mais concretamente para a Direção de Informática, em 1986. Vinha com um grande objetivo, que era ganhar conhecimento e experiência na área das TI, numa empresa que tinha um dos maiores data centers do país. Já tinha passado por duas ou três empresas antes e tencionava, com a adesão à TAP, catapultar definitivamente a minha carreira na área das TI. Julgo, neste contexto, que nos primeiros anos de permanência na TAP, passei por todas as áreas da Informática, onde em todas elas pude aprender e ganhar experiência nas matérias mais relevantes das TI.
Entretanto aconteceu uma coisa engraçada: comecei a apaixonar-me pelo negócio da aviação comercial e, principalmente, pela Empresa TAP em si. E isso tornou-se o principal motivo pelo qual a minha satisfação aumentava à medida que a exigência das atividades que me eram atribuídas e o meu conhecimento da empresa também aumentavam. Entretanto mudei-me para a Megasis e fui tendo a oportunidade de gerir projetos cada vez mais interessantes e importantes.
Consciente que a minha carreira deveria evoluir para a área da gestão, fiz um MBA e comecei a estar mais ligado aos processos de governo de TI, passando também a liderar projetos nas áreas da gestão, processos e organização.
Com a adesão da TAP ao Qualiflyer Group [Aliança de companhias de aviação liderada pela Swissair Group], fui nomeado Secretário Geral do Working Group IT, grupo formado pelos Diretores de Informática de todas as companhias da aliança, projeto em que estive muito envolvido. Na altura não era ainda Diretor, mas já organizava as ações do grupo, planeava uma parte da estratégia do próprio grupo de trabalho e fazia a maior parte das apresentações. Depois, por volta do ano 2000, participei no programa MOP [Modernização da Organização e Processos], programa criado para transformar e reorganizar a TAP, onde liderei o projeto de reorganização da Direção de Informática da TAP e da Megasis, tendo, neste contexto, redesenhado todos os processos de TI da empresa.
A realização de projetos cada vez mais relevantes na área da organização e gestão, teve como consequência, a minha nomeação como Diretor das TI da TAP e de CEO da Megasis. Para além da enorme responsabilidade que me foi atribuída, esta nomeação representava a possibilidade de desempenhar uma função aliciante, desafiante das minhas capacidades e, como tal, de enorme valor intrínseco para mim. Responsabilidade e valor que ainda hoje perduram.
Quando me perguntam o que mais valorizo na TAP, eu respondo, sem hesitações: A TAP é uma empresa que nos desafia constantemente, onde todos os dias descobrimos questões novas e interessantes e que nos permite desenvolver e aplicar as nossas capacidades e competências em áreas tão aliciantes como são as relacionadas com a gestão das TI na Aviação Comercial.
Como avalia o ano de 2016, numa perspetiva global (TAP) e particular (área IT)?
O ano de 2016 é um ano que eu considero de transição. É o ano em que a Empresa toma consciência de que foi privatizada e que tal representará um enorme desafio na sua existência. Passámos a ter novos owners, com personalidades e formas de trabalhar diferentes. A Administração expôs claramente os objetivos da empresa no início do ano, percecionando-se de imediato que iria ser um ano agressivo em termos de mudança. Não diria que a pressão se tornou maior, mas passou a sentir-se de uma forma diferente. Portanto considero que 2016 foi um ano em que todos os Colaboradores da Empresa sentiram claramente esta mudança.
Tudo isto afetou necessariamente a área da Informática, porque não há processo de mudança que não precise de Informática. Quando toda a gente começa a falar em aceleração ou reengenharia de processos, qualidade de serviço prestado ao cliente ou inovação, tomamos imediata consciência de que temos de acompanhar estas mudanças.
2016 foi, neste contexto, um ano de grande exigência para a TAP IT. À medida que a TAP apresentava as principais iniciativas de mudança, que abrangiam desde a renovação de aviões ou do produto, até à melhoria do processo de “Customer Experience”, tornava-se cada vez mais evidente a necessidade de aumentarmos o nosso nível de desempenho e compromisso com as transformações em curso. Saliento aqui dois projetos muito importantes para a Empresa, executados em 2016: a criação do novo Flytap – que é, no fundo, um dos principais pontos de venda e mecanismo fundamental na relação com o nosso cliente, para além de ser o principal veículo da imagem da Empresa no ciberespaço; e o projeto de Rebranding, fundamental no reposicionamento do nosso produto. Foram projetos desafiantes, os quais exigiram todo o nosso empenho e concentração, mas que terminaram com um enorme sucesso, tendo sido cumpridos os objetivos de âmbito, custo e prazo. Mas há muitos outros projetos que mereceriam igual destaque.
Quais as principais dificuldades vividas? E quais as principais vitórias?
No final de 2014 foi criada a TAP IT, conceito agregador e centralizador dos núcleos de tecnologias de informação existentes na TAP. Em 2015, começámos a fazer esta transição, através da gradual compatibilização de alguns processos de gestão e produção tecnológica. Mas foi em 2016 que começámos a dar maior visibilidade à TAP IT e a criar uma maior integração entre áreas. A restruturação e centralização do relacionamento com as unidades de negócio, a criação de novos serviços, a centralização do orçamento de TI da TAP, do plano de actividades, da gestão de fornecedores e contratos, a normalização de processos, a criação de uma nova estrutura organizacional única ou a integração das pessoas nos processos de trabalho da TAP IT foram algumas das medidas visíveis da mudança operada em 2016.
A cultura da TAP IT que continuadamente tentamos melhorar é, hoje, a de trabalharmos todos em conjunto numa relação de parceria com as unidades de negócio e mudar definitivamente a imagem fragmentada das TI existente no passado. Foi um grande desafio em 2016, vai continuar em 2017, mas julgo que tem sido superado. Mas os desafios, a este nível, ainda não terminaram.
Quais os principais desafios que prevê que vão surgir neste novo ano? Como poderemos enfrentá-los?
Tal como referi, o nosso grande objetivo é melhorarmos a nossa relação de parceria com as unidades de negócio. Na prossecução deste objetivo, teremos inevitavelmente de melhorar a qualidade do suporte que atualmente prestamos e, neste contexto, torna-se fundamental melhorarmos o modelo de relacionamento com o negócio e alguns dos nossos processos de trabalho. Constituem passos fundamentais a dar em 2017, a promoção de uma maior aproximação e integração das TI no negócio, de forma a melhor entendermos as estratégias e objetivos de negócio e, consequentemente, apresentarmos de forma mais planificada e eficaz as capacidades, competências ou soluções de TI necessárias. Queremos ser percebidos como elementos do negócio, no sentido em que partilhamos os mesmos objetivos e as mesmas preocupações e não apenas como prestadores de serviços de TI como fomos, por vezes, percecionados no passado.
Ainda decorrente do novo modelo de governo e relacionamento, serão criados novos fóruns e mecanismos de decisão e acompanhamento das questões de TI na TAP, dos quais cito o IT Committee, fórum que agrupará todos os EVPs da empresa e que assumirá, como uma das principais atribuições, a responsabilidade pela definição e aprovação do orçamento e plano anual de actividades de TI.
De que forma é que as tecnologias da informação podem ser uma mais-valia para o desempenho da TAP?
O mundo dos negócios é hoje muito dependente das tecnologias de informação. Estamos a passar por aquilo a que se chama normalmente a “digitalização do negócio”, à qual a aviação comercial não pode ser alheia.
Mas o que é afinal a tão discutida digitalização do negócio? Uma empresa pode ser vista como um conjunto de processos de trabalho, sendo que os mais importantes destinam-se a promover o relacionamento com os principais stakeholders. Destes, refiro como os mais relevantes, os clientes, os recursos humanos, os parceiros e fornecedores e, finalmente, os acionistas. E afinal o que entendemos como digitalização do negócio? Hoje em dia, nenhum destes stakeholders quer continuar a relacionar-se com as empresas como o fizeram antes. Não há nenhum cliente que queira ir a uma loja física TAP comprar um bilhete de avião, da mesma forma que não há nenhum cliente que queira ir para uma fila de espera para fazer uma reclamação ou fazer check-in. Todos os nossos clientes quererão fazer isso de forma eletrónica – do telemóvel, do tablet ou do computador – em qualquer momento e em qualquer lugar. E muitos exigirão, neste novo paradigma, novos e menos dispendiosos serviços, até porque a mudança de prestador estará ao alcance de um simples clic. Mas não são só os clientes que exigem estes novos modelos de relacionamento. Os Recursos Humanos da empresa querem portais para facilitar e melhorar a relação com a empresa, como o FlyStaff é um dos melhores exemplos. Iremos certamente querer aumentar a capacidade de obter informação, encomendar ou receber serviços ou produtos, sempre que possível, de forma digital e em tempo real. Os acionistas quererão obter, sempre que pretenderem, informação relevante e precisa sobre a empresa.
Para isto é necessário digitalizar muitos processos internos e é por aqui que se vai jogar o futuro. Não há praticamente nenhum processo de transformação digital em que a TAP IT não esteja envolvida como parceiro de negócio através das suas capacidades e competências de análise, arquitetura, integração, desenvolvimento ou produção tecnológica.
A TAP precisa inevitavelmente de muito suporte de tecnologias de informação e sabe qual a importância que a TAP IT tem para o futuro a Empresa.
Que importância vê na criação da nova What's|UP IT, dirigida aos Colaboradores de IT?
É fantástico. É um pequeno passo, mas muito importante. E espero que mais passos venham a ser dados nesta vertente.
A Megasis foi erradamente percebida, durante muitos anos, como uma empresa externa de prestação de serviços de TI. Isto teve um efeito muito negativo no desenvolvimento da Megasis tendo contribuído significativamente para a fragmentação das TI e o afastamento criado com o negócio – a tal distância que estamos agora a eliminar – mas também porque os Colaboradores da Megasis sentiram-se excluídos da TAP.
Nos últimos anos, temos desenvolvido esforços no sentido de promover de novo a inclusão destes Colaboradores, como forma de promover a melhoria do que designamos por “clima organizacional ” e também aumentar a ligação e compromisso dos Colaboradores aos objetivos da TAP.
Embora a criação da What’s UP|IT seja muito importante na divulgação interna dos factos relevantes na vida da TAP IT e da Megasis, é no sentido da referida inclusão que atribuímos um enorme valor e reconhecimento a esta iniciativa. A partilha de conhecimento e de notícias sobre as ocorrências e factos da vida do Grupo TAP muito contribuirá para o aumento do espírito positivo do conceito TAP IT, que há muito perseguimos, e para a concentração num sentido único que passará sempre por fazer a TAP voar mais alto.