Filipa Elvas: A VOAR NO CÉU E NA TERRA
A bordo dos nossos aviões, temos uma maratonista fora do comum. Filipa Elvas é Assistente de Bordo na TAP e, quando aterra, mesmo com os pés no chão, não deixa de voar. É, até hoje, a única mulher a ter finalizado a duríssima Maratona da Grande Muralha da China e ficou em 1º lugar na Maratona Polar Circle, na Gronelândia. Inspirador é o adjetivo mínimo para qualificar a história de Filipa.

Num dia como outro qualquer, em 2011, Filipa decidiu que iria participar na prova “Marginal À Noite”, em Oeiras. Munida apenas com uma banana e com uma nota de 5 euros, que enfiou numa das meias, Filipa deparou-se, logo de início, com uma adversidade. Se queria chegar a tempo à prova, teria de ir a pé. O trânsito estava cortado na marginal e nenhum táxi a levaria.Filipa não foi a passo. Correu 4 km e chegou 5 minutos antes do início da prova. Poderá ter sido o aquecimento inesperado ou a tenacidade de Filipa, mas o que é que facto, é que terminou a sua primeira prova em 8º lugar. Nessa mesma noite, já deitada, pensou: “gosto disto!”.Mais duas provas volvidas, incluindo uma Meia Maratona no Rio de Janeiro, e a Corrida assalta o coração de Filipa, cimentando-se a paixão. Adivinhando, talvez, o que o futuro lhe traria, telefona ao amigo Manuel Machado e pede-lhe para a treinar. O desafio ao qual se propuseram foi a Maratona de Helsínquia, a acontecer daí a 23 dias. Filipa foi à Finlândia, correu os 42 km e não desistiu: “ foi nesse dia [em Helsínquia] que descobri que a Maratona e a Corrida são o meu caminho. Descobri isso por uma razão muito simples – sou feliz a correr”.
A dupla de treino mantém-se e Filipa passa a fazer duas a três Maratonas por ano, o que, a par da sua profissão, a leva aos quatro cantos do mundo: Polónia, Alemanha, Noruega, EUA e Perú são alguns dos países em que já cortou metas. Para dificultar ainda mais o processo, Filipa também não se restringe a um determinado ambiente. Tão depressa é possível vê-la numa Maratona alpina, como a de Davos, na Suíça, como vê-la a correr num deserto. E por que não o mais árido do mundo, o de Atacama, no Chile? Se Filipa pensou, melhor o fez, terminando num brilhante 3º lugar. É esta adversidade que lhe permite exercitar aquele que considera o músculo mais importante do corpo – a cabeça. “Se a minha cabeça falha, falhará tudo. Ela é que manda, em tudo”. Como a cabeça nunca falhou, Filipa nunca desistiu. Nem mesmo nas duas provas mais duras em que já participou: a Maratona Polar Circle, sob uns amenos 10 graus negativos e 42 km de subidas e descidas acentuadas, cheias de neve, em pleno Círculo Polar Ártico, e a Maratona da Grande Muralha da China. Aqui, a adversidade traduziu-se em 20.500 degraus, envoltos numa humidade sufocante de 30°C. “Foi a coisa, fisicamente, mais violenta que fiz na minha vida. Estive 7h50 a correr, sem parar. Quando terminei a prova, chorei durante três horas… de felicidade.” E foi, precisamente, nas duas Corridas mais adversas que cortou a meta em primeiro lugar.
Filipa gosta de correr sozinha, sem música e em silêncio. Por outro lado, não consegue correr sem emoção e inspiração. Por isso, há sempre alguém que a acompanha e que a inspira. Leva sempre a Nossa Senhora de Fátima em cada Maratona, pensa em todas as pessoas que ama e que fazem ou fizeram parte da sua vida e, na Grande Muralha da China, foi Ayrton Senna a sua grande força. Coincidentemente, a prova aconteceu no mesmo dia em que Senna tinha falecido, 19 anos antes. “Todos os dias ele ‘corria’ ao meu lado e deixou de o fazer quando cruzei a meta. Depois dessa vitória, abandonei-o. Ou ele a mim…”.
Veja aqui algumas das suas fotografias favoritas:
Nuno Fernandes